Enquanto eu estava tentando pensar EM STACCATO

 

Monólogo interior: De que tipo de consciência o século 21 tem necessidade?

Nós somos
O que é consciência?
E o que chamamos neste artigo de “possibilidade gnóstica” da consciência?
Acima de tudo, é a consciência sensorial que predomina em nós. Pelos sentidos, temos consciência do que nos cerca, de uma realidade e de nós mesmos. Como é formada essa consciência? Um bebê que abre os olhos parece olhar, por assim dizer, através de nós e em nós.
Seus olhos estão em perfeito estado, mas ainda falta a capacidade de interpretar o significado da informação que os olhos comunicam à consciência.

Com base nos materiais de construção fornecidos pelos sentidos e registrados em nossa memória, formamos uma imagem em nossa cabeça, uma representação da realidade e de nós mesmos nessa realidade. Assim nasce uma consciência-eu.

O conhecimento também se baseia na consciência sensorial. O que percebemos é verdadeiro. Caso contrário, é uma especulação. Desse modo, podemos tornar nossa realidade um pouco mais consistente. Porque todas essas experiências sensoriais fazem surgir algo em nós. Existe também uma consciência de sentimento: as experiências são simpáticas ou não, agradáveis ou desagradáveis. As experiências sensoriais tornam-se imediatamente realidade, são coloridas por uma emoção sentimental, e isso também registramos na memória.

Assim, temos aquecimento central, vamos buscar nossa comida pronta no supermercado e, satisfeitos, podemos ler o jornal ou buscar uma distração para encher nossos olhos e ouvidos via internet e televisão.
Os animais também possuem uma consciência do meio ambiente. Trata-se de uma consciência de autoconservação. Eles não podem viver sem essa consciência, do mesmo modo como um bebê, por exemplo, não pode viver sem a sensação de fome e a reação que se segue. Somos um tipo de animal enobrecido, providos de um intelecto. Grande parte do comportamento humano pode ser explicado pela necessidade de autoconservar-se: é a luta pela sobrevivência do mais forte.

Mas o que é educação, cultura?
Poderíamos dizer que essa consciência de autoconservação não é muito agradável para os demais. Vemos isso na criancinha, que berra deitada no chão do supermercado porque seu desejo não é satisfeito imediatamente. Trata-se, portanto, de educação. É toda uma briga que os pais conhecem. O objetivo a ser alcançado é fazer que a razão e o sentimento amenizem um tanto essa consciência primitiva de autoconservação. Isso, em grande escala, chama-se cultura, civilização, e vem com o estabelecimento de leis e regras.

Teremos de concordar e ceder em algo. Algo terá de ser reprimido e rejeitado. E além de “mim” e de “você”, há também “nós” e “eles”, que se somam. Então fica ainda mais problemático, especialmente porque a ciência vem substituir a clava e o machado por armas atômicas. E precisamos levar em conta a tensão existente neste momento entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, sem esquecer o fato de que tudo fica registrado na realidade cósmica. Tudo que o ego causa à realidade com seus atos, pensamentos ou emoções não é sem consequências. Somos criadores aprisionados às nossas próprias criações. Seus efeitos retornam aos nossos sentidos na forma de acontecimentos no espaço-tempo. Isso é o que, em termos orientais, denomina-se carma.

No mundo das energias emocionais também é assim. Os sentimentos e as tensões emocionais que criamos são registrados e conservados no que denominamos subconsciente. Eles colorem fortemente nossa experiência sentimental. Nossas tendências, nossas disposições de ânimo não podem ser explicadas pelas experiências feitas após o nascimento. Não chegamos ao mundo como uma página em branco.

Surpresa
Perguntas feitas à cabeça:
Mas, a realidade da consciência descrita acima é tudo isso?
Não deveríamos nos questionar?
Qual é a fonte da nossa consciência? Somos nós mesmos?
Somos o que a consciência produz?
Podemos cuidar da nossa consciência?
Onde nossa consciência de fato começa?
O eu se separa da realidade ao observá-la, como se ele fosse independente deste cosmo, de toda a realidade, do todo. No entanto, ele é um componente da realidade, da criação ou do cosmo. E o que é a realidade, na verdade? Ela existe realmente?

Todos nós temos uma interpretação pessoal da realidade: ela é diferente para todos. Mas existe uma realidade única? Muitas vezes foi feita a seguinte pergunta: “Se uma árvore tomba em um bosque e ninguém nas imediações escuta, será que ainda podemos falar da existência de um ruído?” Poderíamos responder: Não, o barulho é um som percebido na cabeça, por meio dos sentidos, é uma realidade subjetiva. Os animais têm outro tipo de realidade ou consciência do meio ambiente. Um pombo, por exemplo, vê duas cores a mais que os seres humanos. E nossa vivência da realidade seria a realidade?

Inquietude
Existe alguma coisa útil? Estamos satisfeitos com o que é?
Antes de tudo, vejamos em pequena escala: estamos contentes, felizes conosco mesmos, sentimos essa felicidade em nós mesmos? Estamos felizes, satisfeitos com o modo como pensamos, sentimos e reagimos? É possível que algo como nossa consciência nos acuse?
Seguramente não estamos contentes, felizes com o que somos e com nosso meio ambiente. E lutamos para mudar isso, com base nessa consciência-eu que sempre quer mais.

Mas, há em nós ainda outra voz que começaria a se cansar dessa consciência-eu? E se olharmos tudo isso em grande escala? O que lemos no jornal? Dramas que nunca acabam. Mas, não há um drama maior ou sofrimento dentro de cada um de nós? O que isso causa em nós? Qual é a nossa reação? Não existe em nós um anseio por amor verdadeiro, unidade, liberdade?

Gostaríamos de apontar para isso como uma possibilidade gnóstica em nossa consciência. Esta possibilidade encontra-se no coração, na consciência do coração. Ela fala a respeito do amor, da luz, da liberdade, do infinito, de realidades. E não podemos encontrá-los aqui.

É uma voz silenciosa, doce, um saber interior de algo que não tem nome. Se nomeássemos a primeira possibilidade, a consciência baseada nos sentidos, de consciência de uma parte do todo (a consciência-eu), poderíamos chamar a segunda possibilidade de consciência em relação a tudo (a consciência do Todo).

É a essência do reconhecimento da história gnóstica: há em nós, em nosso coração, uma centelha do Espírito, um átomo original. Esse átomo conserva, nas profundezas de nosso ser, a lembrança de outra realidade, uma realidade de amor, de liberdade e de unidade, e também o reconhecimento do que disse Buda: “Todo sofrimento provém do eu”. E então, abre-se o caminho de volta, o caminho de retorno, a consciência em relação a um ponto, segue para a consciência em relação a tudo, a consciência do Todo.

Enquanto eu estava tentando pensar em STACCATO
Tempestade em Shiprock
O ato
E para que isso serve? A isso se soma a algo mais, outra consciência? E a pergunta que agora fazemos é a seguinte: A realidade produz a consciência ou é a consciência que dá origem à realidade?
Quando a ciência tentou decompor a matéria por meio de gigantescos aceleradores de partículas, nos quais os átomos explodem uns contra outros quase à velocidade da luz, uma visão particular do mundo veio à luz: tudo é radiação, energia. E se quisermos compreender tudo isso verdadeiramente, encontraremos uma fronteira, uma indefinição. A realidade aparece como uma quantidade infinita de probabilidades, de possiblidades. Então, finalmente é o observador, a consciência, que determina que forma concreta dar à realidade.

 

Somos sempre criadores com base em nossa consciência, e, portanto, somos responsáveis por nossa própria realidade. Em um contexto mais amplo: a realidade conhecida por nossa humanidade é a realidade em relação à consciência dessa humanidade coletiva.
A realidade, o cosmo, ou como quer que a nomeemos, envia de volta o que somos, o que geramos. E assim, a consciência-eu sensorial, ou consciência do “conhecimento racional”, vê um cosmo frio e solitário; existe apenas a matéria relacionada com as leis naturais impiedosas. Um Big Bang partindo do zero, e isso é tudo. Uma explosão de energia em partículas e em matéria que se condensam até se tornarem sóis e planetas. E, no barro ou sopa primordial de um planetinha minúsculo, a vida surgiria por acaso, e provavelmente também a consciência do meio ambiente. Como disse recentemente um cientista conhecido, em um programa científico popular na televisão: “Nós somos provavelmente a primeira consciência nascida neste cosmo”.

E nosso comportamento?
Sim, ele tem a ver com o nosso cérebro. Somos o nosso cérebro, que são grãos de poeira em nossa cabeça. Somos como devemos ser: animais melhorados, providos de uma consciência-eu conservadora. A cultura e a civilização são bastante úteis. E quando nosso comportamento deixa a desejar, quando transgredimos as leis da decência, significa que houve uma pequena falha em nosso cérebro, e talvez encontremos uma maneira de consertar isso. Nós sempre sabemos mais. As bênçãos da ciência médica já são bastante numerosas!

E novamente partimos da ideia de que a consciência cria a realidade. Este é também um ponto de vista cada vez mais compartilhado nos dias de hoje: mudando nossos pensamentos podemos influenciar nossa saúde.

A pesquisa científica nos diz que o efeito placebo representa 30% dos casos de cura. Apenas pensar em recuperar a saúde faz que 30% das doenças melhorem em virtude de um medicamento ou de um tratamento. E por que não 100%? Que aconteceria se o efeito placebo fosse de 100%? Situações do tipo “Harry Potter”.

Há sempre o recurso da oração. Então imploramos pela mudança da realidade, especialmente quando essa realidade não é tão agradável. Pensamos aqui nas doenças e nas catástrofes naturais. É quando usamos mais as orações. Assim, um agricultor reza pela chuva, enquanto um pouco mais além um frequentador da praia implora pelo sol. O que você acha que o cosmo ou a divindade invocada pode fazer nesse caso? Aconteceria um caos inacreditável com os 100%. A desordem produzida por nossa consciência-eu já é um verdadeiro desastre no domínio material, contando apenas com nossa força física.

O efeito placebo: uma sombra do poder divino original. Nossa realidade concreta sensorial é uma consequência da separação de nossa consciência com o todo. Separação, ramificação do todo cuja expressão simbólica é a oposição do bem e do mal. O resultado é a formação, no espaço-tempo, das circunstâncias. E de uma consciência que aí vai se instalar.

A separação do todo, da vida, é responsável pelo fato de os outros seres serem percebidos como ameaças, como inimigos (o mal). É assim que surgem a luta, a dualidade e a morte.

Mas voltemos agora para a visão gnóstica:
Há também outra realidade: a realidade percebida com base na consciência da humanidade que possui a “consciência do Todo”. Existem muitos domínios cósmicos e há tantas realidades quanto há estados de consciência. E em nosso coração já sabemos disso, pois reconhecemos essa realidade em nosso coração em linguagem simbólica.

Então o amor é a criatura e o próprio criador. O reino que não é deste mundo. Um novo céu e uma nova terra. A criação original divina.

E os poderes: o homem original criado por Deus era o soberano de uma criação divina. Ele era Um com o Pai, Um com a lei do amor. Sabedoria, amor e força em harmonia. E os poderes desse homem nós os reconhecemos nisto: “Tudo receber, tudo abandonar, e assim tudo renovar”. Os poderes são imediatamente oferecidos a nós quando aprendemos a reconhecer e seguir a lei do amor no coração.

O processo
Outra consciência? Isso seria possível? Podemos assim entrar no não-eu, no presente, na não-dualidade?
A resposta é simples: experimente!
A resistência experimentada (como por exemplo, os pensamentos indesejáveis) que vem à nossa cabeça tem sua origem em nosso passado. A realidade sensorial se impõe à nossa consciência. Uma realidade, como resultado do passado. E a realidade dos sentidos, nosso subconsciente, também é resultado do passado. O que nos arrasta para baixo são as tendências, os humores indesejados, aos quais não podemos opor nenhuma resistência com nossa força de vontade. Com essa força de vontade obteríamos, no máximo, apenas uma repressão temporária.

E, desse modo, novamente reconhecemos a história gnóstica. Esta conhece tão-somente um eu vencido. Um eu cansado e vencido na luta da existência contra a existência, contra toda a existência, e especialmente pela luta em si mesmo contra si mesmo, do eu que tentou realizar o amor, a liberdade e a unidade neste mundo dos sentidos. Um ser humano com certa cultura pode reconhecer o processo, que começa com o reconhecimento dessa força na consciência do coração.

A força do átomo original, essa outra força em nossa consciência, pode empreender o processo do caminho de retorno. É uma força que não pertence a este mundo.

A Unidade, o Verbo, brilha nas trevas. E esperamos que, assim como João, compreendamos esse Verbo e endireitemos os caminhos para essa outra consciência, que nasce em nosso coração: o mistério da iniciação crística do novo século, e a nova consciência na nova realidade. ◊

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Pentagrama no 2 / 2018

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