Os dois objetivos da Gnosis

A NEUTRALIZAÇÃO DO EU

O renascimento da alma não é ainda nenhuma transfiguração. A transfiguração é realmente o objetivo da Escola Espiritual moderna. A Escola Espiritual da Tríplice Aliança da Luz se volta para a transfiguração, para o totalmente novo devir humano. Possa, portanto, ficar claro para vós, que, como alunos dessa Escola, não deveis permanecer no primeiro benefício, no novo estado de alma, na boia, sobre a qual podeis flutuar durante algum tempo. A alma possui ainda um segundo poder! A alma é, caso ela tenha adentrado o estágio de renascimento, o estágio do novo ânimo, capaz de invocar e de realizar a descida do Espírito no centro da pineal.

        A linguagem do coração1

 

Assim como o cervo brama pelas correntes das águas,
assim suspira minha alma por ti, ó Deus!
Minha alma tem sede de Deus: do Deus Vivo!”
(Salmos 42: 1- 2)
 
 J. VAN RIJCKENBORGH
 

Quando a alma se eleva, dessa maneira, o Espírito desce no centro preparado da pineal. Então, o próprio Espírito Sétuplo, de modo inteiramente libertador, toca o éter nervoso com sua força santificadora. Ansiamos por esse Espírito em nossa Escola; esse Espírito vos toca em perfeição.

Podeis facilmente imaginar a grande tensão alcançada por um aluno que se dirige com seu total interesse para a Gnosis e assim abre o coração à radiação do microcosmo, radiação essa contrária, em todos os aspectos, ao estado de ser da personalidade. A força invocada pelo próprio eu e que penetra o sistema é totalmente aniquiladora para o eu e tudo aquilo que ele possa nutrir. Por isso, está bem claro que a grande luta que devemos travar deve começar no coração. Todos os desejos do eu que se autoafirma, que se coloca no ponto central, são irradiados pelo coração e aquilo que é desejado é atraído.

Mediante essas atividades do santuário do coração, que surgem em todos os homens, o coração encontra-se em movimento contínuo, até mesmo em estado de sono. Por conseguinte, o coração humano está muito cristalizado e extraordinariamente fatigado, e não há um momento de silêncio, de tranquilidade.

A grande luta do aluno é sempre travada no coração, mediante o coração e com o coração. O coração é o grande campo de batalha, como nos é totalmente esclarecido também no Bhagavad Gita. O coração está sempre buscando, impulsionado pelos desejos do eu. Contudo, em nosso mundo regido pela lei dos opostos, é compreensível que, no momento em que o desejo parte do coração, invoque-se também motivos e forças contrárias. […]

Dessa forma, o coração do homem está muito impuro. Isso se revela, acima de tudo, quando ele começa a adentrar o corpo vivo da jovem Gnosis. Nenhum homem tem um coração puro, limpo, à luz da Gnosis, pois ele se tornou há muito tempo em campo de batalha. Se alguém quiser seguir a senda, deverá purificar, silenciar, seu coração. Silenciar diante de Deus, como diz a Bíblia.

A perseguição, a luta e a agitação contínuas do eu devem cessar, pois se não se suspende o conflito e a aspiração comuns do coração, este jamais pode receber a radiação nuclear do microcosmo de maneira harmoniosa. Então, como dissemos anteriormente, a radiação nuclear que vos penetra aniquila-vos.

Somente quando o coração se torna verdadeiramente silencioso, puro, é que ele pode dedicar-se a sua verdadeira tarefa, à qual todo o homem, devido a suas duas faculdades divinas, é chamado e eleito, a saber, a vitória sobre a morte e assim ingressar no verdadeiro novo estado de vida.

Como iniciar? Como realizar a purificação do coração, como torná-lo silencioso? Mediante a completa retirada do coração do processo dialético de vida, e a sua inteira consagração ao novo processo anímico que se começa a vislumbrar, à radiação nuclear que emana do centro do microcosmo.

Pode-se fazer isso? Sim, isso é absolutamente realizável. Quando iniciardes essa realização, descobrireis que é possível adotar e manter uma atitude de vida completamente nova, sem que preciseis forçar-vos de qualquer maneira, de modo que vossa vida flua em outra correnteza, na qual o barco da vossa nova da vida é impulsionado.

Suponde que decidis tomar semelhante nova atitude de vida; então, é certo que também simultaneamente o eu, o eu da natureza em vós, terá decidido muito conscientemente a não usar o coração no jogo da vida cotidiana: o eu terá decidido a endireitar as veredas para seu Senhor.

Talvez soe um tanto estranho dizer que o eu não irá usar o coração no processo de vida dialético, pois ele, o coração, continua desempenhando naturalmente suas funções biológicas normais. Contudo, ele é subtraído de tudo quanto aqui se encontra, de toda a agitação dialética, de toda a luta. O coração entra na mais profunda paz, a paz de Belém. Ele já não aspira a nada do que é dialético. Ele já não luta contra homens, coisas e circunstâncias.

Todavia, ele não é indiferente para com os homens e as coisas, pois sabeis, com certeza, que no aspecto dialético podeis agir de três formas: podeis atrair as coisas, repeli-las, no entanto podeis também encará-las de modo totalmente indiferente. Essa indiferença em relação aos homens, às coisas e ao mundo talvez seja ainda pior. Quando nos subtraímos às coisas dialéticas em nosso coração, certamente não queremos cair na indiferença. O coração apenas não deseja participar do campo de batalha da vida. Ele não luta contra os homens e as coisas dialéticas e afirma esse ponto de vista até as últimas consequências.

Todas as funções que devem ser desempenhadas aqui, para poder viver, para poder cumprir nossos deveres sociais, são realizadas exclusivamente com o auxílio do órgão da inteligência, portanto, sem a participação do coração. Se fizerdes isso, descobrireis que essas atividades sociais podem ser cumpridas muito melhor do que antes.

O coração está sempre buscando, impulsionado pelo desejo do eu

A irradiação do centro
Além disso, descobrimos que se o eu já não tem a sua disposição o coração e suas funções, a natureza autoafirmativa é, do imo, colocada a ferros. Quando afastais o coração do movimento dialético e o dirigis totalmente à radiação nuclear do microcosmo, perdeis todos os instintos de autoconservação. Então experimentais a entrada de vosso éter nervoso em grande e intensa paz. Viveis, cumpris vosso dever, porém não desejais agarrar-vos a nada disso.
 

Todavia, não devemos naturalmente pensar que o coração se torna inativo por intermédio disso tudo. Quando, do ponto de vista dialético, não deixamos o coração fazer nada, ele sempre se volta para sua sublime e verdadeira tarefa designada por Deus. Por isso, todo o coração se entrega à radiação nuclear do microcosmo, a rosa se abre imediatamente e é atada à cruz da natureza sem a menor resistência. Somente então nos tornamos verdadeiros rosa-cruzes.

Quando essa cruz permanece ereta, dimana, como é compreensível, uma atividade transformadora e purificadora por toda a personalidade e nela atua. Toda a vida, toda a atitude de vida se modifica. Desse modo evidencia-se que a pessoa em questão tornou-se um rosa-cruz, que ela ligou-se à Fraternidade da Rosa-Cruz Rubra. Tal pessoa somente pode ser um rosa-cruz, mediante o coração que se tornou silencioso.

Por isso, vosso coração deve verdadeiramente tornar-se silencioso e render-se a seu verdadeiro destino: a recepção e o acolhimento da radiação nuclear do microcosmo. Quando o coração se torna dessa maneira silencioso e puro, a rosa do coração desabrocha para a Gnosis Universal e o Verbo pode-se fazer vivente em vós. Grande alegria se vos sobrevém, alegria que nunca mais desaparecerá. Grande e magnífica graça preenche todo o coração e sente-se profunda ligação com todos e com tudo.

A primeira faculdade poderosa e imortal do homem adentrou livremente o sistema. O Nous que é de Deus é então vivificado em vós e já não encontra nenhuma resistência no coração, no local de vivificação. Ele pode agora fazer com que o coração se torne perfeitamente puro. Ele pode se adaptar em grande harmonia à personalidade e inflamar o inteiro sistema desta última, aí atuando de maneira sanadora e impedindo enfermidades.

Esse é o segredo do tornar-se sadio no processo de transfiguração – segredo que permite ao aluno seguir seu trabalho até uma idade avançada, apesar da fraqueza inicial do corpo com o qual ele nasceu.

 
José de Arimateia e Hermes
Quando adentrais o jardim das rosas, brilha para vós o clássico primeiro dia da nova semana: o primeiro dia no jardim de José de Arimateia. Esse jardim situa-se em um monte. A palavra Arimateia significa também “lugar elevado”. Sobre esse local elevado, nesse monte, ergue-se a segunda faculdade imortal do novo homem em vós: o Verbo Vivente.
 

O Verbo Vivente e a voz se unificam em vós e se tornam uma vibrante realidade vivente. A grande festa da ressurreição é celebrada em vós. Nascido no silêncio do coração, o lugar elevado, que era no princípio, é novamente consagrado à vida. A poderosa força do Santo Graal, a magia gnóstica, pode ser empregada. A voz, movida pelo Verbo, falando, cria; ordenando, é obedecida! Pois por meio do nascimento, da ressurreição do Verbo, a entrada do Espírito é festejada no candidato.

Nesse momento, liga-se o Espírito Sétuplo com a alma e as núpcias alquímicas, a saber, a transfiguração, tem início. Deste modo, vós o sabeis, podereis adentrar o portal áureo. Sonhos maravilhosos do símbolo interno falam então. E Hermes acrescenta:
A alma está no corpo; o Nous, na alma; o Verbo, no Nous. O Verbo é, portanto, a imagem e o Nous de Deus; o corpo é a imagem da ideia, e esta última, a imagem da alma. ◊

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Pentagrama no 1 / 2018

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