Um pedido de perdão dos católicos do Ariège pelo drama cátaro

Expresso em 16 de outubro de 2016 em Montségur

Na aurora do terceiro milênio, o papa precedente, João Paulo II, em um exame de consciência e de purificação da memória, fez um pedido à sua igreja para implorar o perdão de Deus. No dia 16 de março de 2016, 772 anos depois do dies nefasti da execução de 206 cátaros em uma imensa carnificina aos pés de Montségur, Jean-Marc Eychenne, bispo de Pamiers, Couserans e Mirepoix, fez o mesmo em relação a esse acontecimento que marcou o fim do catarismo organizado no Ariège.

Depois de algumas citações do sermão de seu Soberano Pontífice, entre outras coisas Eychenne declarou: “Nossa região do Languedoc, que há pouco tempo passou a ser chamada de Occitânia, relacionou-se, entre os séculos 7 e 14, com uma corrente religiosa que no século 19 foi chamada catarismo, um movimento religioso de origem cristã que misturava cristianismo com elementos maniqueístas e gnósticos.

Da mesma forma que membros de outras correntes consideradas hereges pela instituição eclesiástica, os seguidores desse movimento foram perseguidos e condenados a duras penas que iam da prisão até a morte na fogueira, como aqui em Montségur, onde em terríveis carnificinas mais de 200 ‘hereges vestidos’, como se dizia na época, foram queimados com seu líder, o bispo cátaro de Toulouse, Bertrand Marty, em 16 de março de 1244.

A lápide do Prat de cramats nos faz lembrar ainda hoje dessa dolorosa ferida aberta. Neste ano de 2016 […] nós, os fiéis católicos do Ariège, somente podemos deplorar e condenar esses atos. Pedimos perdão a Deus por ter agido – por intermédio de determinado número de membros e instituições – de maneira contrária ao evangelho. O evangelho em que Jesus o Senhor nos orienta a amar nosso próximo, e a não responder violência com violência”.

Eychenne continuou com um esboço da posição da Igreja da época, que precisava não apenas defender sua doutrina, mas também seu poder e influência, e então concluiu essa parte com esta última frase: “Pouco a pouco, iluminada pelo Espírito Santo, a Igreja compreendeu que nenhuma violência se justifica para defender um objetivo, por mais nobre que ele seja, como a defesa da verdade”.

E prosseguiu: “Nós, os fiéis católicos do Ariège, pedimos perdão em primeiro lugar a nosso Senhor, mas também a todos que foram perseguidos pelos membros de nossa Igreja. Hoje percebemos que o conflito ou a confusão entre o poder político temporal e o poder espiritual, entre o Estado e a Igreja, tornou-se inaceitável para a vida do mundo e para seu próprio caminho em direção ao reino de Deus, que está por vir. É exatamente devido à interferência desses dois domínios que a dignidade humana e a integridade têm sido profanadas durante tanto tempo e com tanta frequência na história de nosso país e da Igreja, em nome do direito civil, em nome do Evangelho, em nome da defesa da fé (o negotium fide) e em nome dos interesses superiores do Estado”. […]

 Amor e Verdade se encontram, Justiça e Paz se abraçam. (Sl. 84, 11)

Imploramos a misericórdia de Deus, seu amor que vem socorrer nossa fraqueza, a fim de que nós, cristãos católicos do Ariège, mas também todos que vivem em nossa região, qualquer que seja sua fé, sua religião ou suas convicções filosóficas, possamos empreender uma busca serena pela paz e bem-estar geral, pelo diálogo recíproco, pelo respeito das diferenças e pela consideração mútua; tudo isso com um espírito de boa vontade e de confiança na capacidade humana de elevar sua humanidade ao contato com seus irmãos e irmãs. ◊

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