A juventude é definida como uma fase juvenil e imatura. Se eu olhar um pouco para trás, como foi que me tornei um adulto? Ou será que ainda estou me tornando um?
Com certeza uma vida humana não é um processo linear, com um ponto de partida e um ponto de chegada. Muitas vezes aconteceu alguma coisa no meu caminho – uma proposta, uma mudança de direção, uma nova perspectiva, como um fogo que volta a se acender. Novos livros, novas pessoas. E também sempre existiram novas piadas ou comentários sobre minha forma de agir – que às vezes eram rudes e outras vezes serviram para me corrigir ou para me convidar a ter uma conduta melhor.
Quando alguns amigos desapareceram, outros os substituíram, mas depois por sua vez, foram embora também. Até que – sem que eu esperasse – outra porta se abria. No entanto, nesse trajeto, sempre havia algo parecido com um desenho, uma estrutura – e nem sempre era algo que eu havia desejado ou esperado.
Muitas vezes pensei ter chegado a determinado ponto, mas, no final, era somente uma vírgula. Nunca alcancei realmente alguma coisa. No máximo, consegui ultrapassar, ou talvez mudar, os limites quando eles já existiam. E a essência desse ser que chamamos de “eu” estava sempre lá, com toda a sua parafernália.
Era como um caleidoscópio, por assim dizer: às vezes era um campo de batalha, às vezes era um buraco infernal ou até mesmo uma paisagem deslumbrante acompanhada por uma sublime sensação de estar em casa. E de vez em quando, era uma fuga sem sentido para lugar nenhum. Chegar e partir, processo e resultado. Aí estão os parâmetros que expressam o tempo, com seu desenvolvimento progressivo.
Mas, na realidade, quando olho para trás, sinto falta de referências. Criança, jovem adolescente, adulto são fases da vida. Mas, na minha opinião, elas não fazem muito sentido dentro da minha própria vida. Parece que todo o meu passado se contraiu em um único ponto. Não consigo dar um nome a ele quando acordo todas as manhãs. Seria melhor dizer que é apenas e simplesmente “passado”?
Mas, o melhor é não darmos nenhum nome a ele, porque o “hoje” é sempre novo, único, sem ontem e sem amanhã. É um piscar de olhos, um flash que vem da eternidade e me permite contemplar todo o meu ter, o meu fazer e o meu ser. Como um convidado? Como um observador? …ou como eu mesmo? Tenho medo e evito fazer essa pergunta e dar essa resposta. Sei que algo dentro de mim conhece tanto uma como a outra. Mas elas ficam girando, girando, em volta dessa chama que me foi dada – eu, que sou o portador incerto desse archote.
Apesar de toda a minha falta de objetividade e usando o caleidoscópio correto para enxergar melhor, vejo duas ideias que, sem dúvida nenhuma, traçaram meu caminho até hoje: direcionamento e proteção – além de uma euforia quase crônica de gratidão.
A ascensão ao verdadeiro estado adulto é uma eterna juventude! ◊
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Pentagrama no 1 / 2018