A Rosa na cruz do tempo – Irlanda

Rosa vermelha, Rosa altiva, triste Rosa dos meus dias!
Aproxima-te, vem até mim, enquanto de outrora os tempos canto:
O de Cuchulain*, em luta com a maré inclemente; O do Druida sombrio, filho dos bosques, de olhos calmos,
Esse que alimentou os sonhos de Fergus* e a indizível ruína;
É a tua tristeza o que antiquíssimas estrelas
Dançando com sandálias de prata sobre o mar,
Cantam em sua alta e solitária melodia.
Aproxima-te pois, agora que já não me cega o destino do homem,
E posso encontrar sob os ramos do amor e do ódio,
E nas mais simples coisas que vivem apenas um dia,
A eterna beleza errante, errando ainda.

Aproxima-te, vem até mim, vem — Ah, deixa-me algum espaço
Que de seu hálito a rosa encha!
Que não seja eu quem não ouve o que implora;
O verme indefeso e oculto em seu pequeno esconderijo,
A ratazana que entre as ervas de mim foge,
E a terrível esperança mortal que labuta e morre;
Que seja eu quem ouve as estranhas coisas ditas
Por Deus aos luminosos corações dos mortos antigos,
E aprende essa língua que os homens ignoram.
Vem até mim; antes de partir queria o
Velho Eire* cantar e cantar de outrora os tempos:
Rosa vermelha, Rosa altiva, triste Rosa dos meus dias. 

William Butler Yeats

*Cuchulain, herói irlandês combatente pela liberdade, de grande força física, da mitologia do Ciclo de Ulster. É considerado “a encarnação” ou “o filho de Lug”, o deus solar, assim como Heráclito era considerado filho de Zeus.
*Fergus, rei de Ulster que colocou Cuchulain sob suas asas e lhe ensinou a arte da guerra.
*Eire = Irlanda.

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Pentagrama no 2 / 2018

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