CONTRIBUIÇÃO AO SIMPÓSIO SAINT FÉLIX:ANNE BARING
A igreja cátara do Espírito Santo foi considerada a detentora da mensagem original do Nazareno, levada à Aquitânia por José de Arimateia e Maria Madalena. No entanto, essa mensagem não era nova. Os cátaros tiraram seus ensinamentos diretamente da igreja original. Seus apóstolos perpetuaram uma longa tradição: viver em unidade com a “Grande Mãe” – o cosmo – o que já era conhecido no período Neolítico. Para eles, poder utilizar conscientemente sua força cósmica pura era “trabalhar com base na força do Espírito Santo”.
Nesta exposição, veremos como a corrente esotérica do cristianismo gnóstico, a alquimia e a cabala, a antiga cosmologia do feminino divino, que estava em vias de desaparecer lentamente no decorrer dos séculos tenebrosos do período cristão, foi mantida viva pela civilização europeia. Veremos como o gnosticismo e a igreja cátara do Espírito Santo – cuja representação era a Sophia ou sabedoria divina – assim como a taça do Graal –, nasceram dos ensinamentos essênios ou nazarenos originais de Jesus e de Maria Madalena, cujo trabalho apostólico se propagou desde o ano 44 a.C. e emergiu novamente no século 12 no Languedoc.
Milhares de anos antes, um monge chamado Joaquim de Fiore (Gioacchino da Fiore, 1135-1202), habitante do sul da Itália, profetizou a chegada do século do Espírito Santo. Seria este o momento de iniciar este século orando para que o Espírito Santo nos guie? Talvez seja mesmo o momento mais crucial de nossa história: um período de degenerescência e de crueldade extrema, que, no entanto, oferece também imensas possibilidades de mudança.
Milhões de pessoas em todo o planeta despertam para a necessidade de criar uma civilização mais esclarecida, baseada em amor, em serviço e em vínculos, mais que em aspiração ao poder e ao velho esquema de rivalidade nacional, de armas e de guerra. Esse despertar exige uma transformação radical da consciência humana mediante a qual outra compreensão da realidade nascerá e trará consigo diferentes valores, no mais profundo respeito quanto a todas as formas de vida planetária.
Onde devemos buscar a origem da ideia do Espírito Santo? Primeiro devemos voltar ao Neolítico, quando o cosmo era sentido como uma Grande Mãe, Senhor do céu, da terra e das águas do útero do qual nascia toda a vida. A ideia mais importante que gostaria de lhes transmitir dessa época é que não havia criador acima da criação; portanto, nada de separação entre a Grande Mãe vista como a Fonte e as formas manifestadas de sua vida; nenhuma separação entre o espírito e a natureza. O mundo natural em toda a sua extensão e o cosmo eram seres vivos e animados (portadores de alma): eles eram partes envolvidas numa teia viva relacional, vivificada e utilizada pelo espírito invisível.
As pessoas sentiam que estavam vivendo em uma ordem sagrada: a ordem da Grande Mãe. Podemos seguir a passagem da Grande Mãe da época Neolítica para as grandes deusas da Idade de Bronze, tais como Ísis, no Egito; Ártemis, em Éfeso; e Cibele, na Anatólia, que foram veneradas ainda por longo tempo na época romana. Essas grandes deusas eram adoradas por serem a fonte da vida: uma vida que se manifestava como a de todos. A sexualidade era considerada uma expressão vital dessa vida; um impulso sagrado, em estado de êxtase, ligado à força criadora da própria vida – o eterno impulso que consiste na renovação de si mesmo. Nos pátios interiores do templo da deusa, encontrava-se a Árvore da Vida – a figueira selvagem e a oliveira.
A pomba foi, desde os tempos mais remotos, associada à sua veneração. A imagem da rosa também foi associada a essas grandes deusas, por causa da observação astronômica do requintado padrão criado pela órbita de oito anos do planeta Vênus.
Durante milhares de anos, a Grande Mãe e essas grandes deusas personalizaram o princípio de relação: a unidade (como interação) de cada aspecto da vida e, sobretudo, a santidade dessa teia gigante que é a vida. Penso que podemos vê-las como a origem do conceito feminino de Espírito Santo, como uma entidade cósmica englobando tudo na vida da qual vivemos.
É no prolongamento dessas ideias até a cultura grega que encontramos mais tarde, no diálogo Timeu, de Platão, sua poderosa concepção de Alma do Cosmo, que ele descreve como uma “criatura vivente única”, que engloba todos os seres viventes. Essa ideia emergiu novamente no terceiro século depois de Cristo como a concepção de anima mundi ou alma do mundo.
Muitos judeus fugiram para a cidade grega de Alexandria, levando consigo suas antigastradições: as do templo de Asherah, a rainha do céu
Se nos voltarmos para outra cultura – a cultura judaica – então encontraremos a expressão mais sublime do Espírito Santo no livro dos Provérbios e no livro de Ben Sirach e a Sabedoria de Salomão, nos Apócrifos.
No livro dos Provérbios, a Sabedoria conta que ela é o amor/a amada de Deus; ela estava com ele desde o começo, antes mesmo da fundação do mundo. Ela se expressa a partir das profundezas da vida como a lei oculta que rege a vida e como a artesã da criação. Os versos desses textos de sabedoria descrevem essa presença feminina – à qual nos referimos como Sabedoria Divina e Espírito Santo – como inteligência do cosmo, enraizada na árvore, o cepo da videira, a terra e a água, agindo nos lugares em que habitam os homens.
Ela é o princípio da justiça que inspira as leis humanas. Ela é o espírito invisível que dirige a consciência humana e lança seu chamado ao mundo para ser reconhecida. Para os que, como Salomão, a levam mais em conta que rubis, a Sabedoria Divina (Hokhmah, em hebreu; e Sophia, em grego) era o Espírito Santo, seu guia sábio e esclarecido, ligado à imagem da Luz. Nas palavras de Salomão: “Orei pela compreensão e me foi dada. Invoquei Deus e o espírito da Sabedoria veio sobre mim. Eu a amei mais que a saúde e a beleza e escolhi possuí-la no lugar da luz, pois a luz que nasce dela jamais se extingue…”.
Por suas imagens viventes, essas passagens transformam a ideia do Espírito Santo, que se exprime como Sabedoria Divina de ideia abstrata em presença vivente. Essa sabedoria fala como estivesse presente aqui, entre nós no meio de seu reino, habitando este mundo e acessível a todos os que a buscam.
Ela é desconhecida e não reconhecida, mas ainda age na profundeza da vida, buscando abrir nossa compreensão à realidade divina de seu ser, à santidade de sua criação e de sua justiça, sabedoria, amor e verdade.
Em 587 a.C., no tempo da destruição do primeiro templo de Jerusalém, grande parte do povo judeu foi obrigada a ir à Babilônia. Mas numerosos outros judeus fugiram para a cidade grega de Alexandria, levando consigo suas antigas tradições – as do templo de Asherah, a rainha do céu, que eles adoravam como o Espírito Santo e a Sabedoria Divina.
Uma vez mais, reconhecemos a associação da deusa com a Sabedoria e o Espírito Santo. Depois da destruição do segundo templo pelos romanos, em 70 d.C., o número de judeus a se juntar a essa comunidade de Alexandria foi ainda maior. Esses judeus exilados formaram o núcleo dos grupos gnósticos posteriores, do segundo e do terceiro séculos d.C., que haviam assimilado a mensagem revolucionária de Jesus e de seus discípulos nazarenos, e que haviam conservado a imagem de aspecto feminino da divindade.
A mensagem essencial de Jesus, originária da comunidade essênia de Qumram, na Palestina, anunciava a abertura de nossa consciência à presença de um reino interior que ele chamava de “Reino de Deus”. Ele afirmava que a luz do Espírito Santo estava presente em cada um de nós, mas que ela deveria ser invocada em nossa consciência para vivermos a vida de outra maneira, em serviço compassivo aos outros, em vez de nos apegarmos a valores degenerados e a convicções como as que regiam o mundo naqueles tempos. Nas comunidades nazarenas, tanto as mulheres como os homens podiam ser professores, sacerdotes e curadores, desde que portassem o Espírito Santo em si mesmo.
As comunidades gnósticas posteriores não se organizaram como os nazarenos do início, baseadas num modelo hierárquico conforme a Igreja de Roma, e seus membros não aceitavam a legitimidade da origem apostólica dessa igreja de Pedro.
- Eles fundamentaram sua doutrina religiosa não sobre a igreja de Pedro, mas sobre os ensinamentos nazarenos de Jesus e de seu irmão Tiago [Jacó].
- Eles honravam Deus como mãe e pai.
- Eles tratavam de modo igual os homens e as mulheres. Cada um deles podia exercer a função de professor, de curador, de sacerdote e de diácono.
- Eles não acreditavam que Jesus fosse filho de Deus nem que tivesse nascido de uma virgem, nem que tivesse sido gerado em um corpo físico.
Esses grupos gnósticos se propagaram para o oeste, na Europa, e para o leste, até a Índia e mesmo a China. Embora tenham sido expressos por apenas algumas centenas de anos, seus ensinamentos puderam ser transmitidos de geração a geração, até alcançarem os bogomilos, na Bulgária, e os cátaros, na França e na Itália, cujas doutrinas eram muito parecidas.
Num texto gnóstico chamado Trimorphic Protennoia, o autor a descreve como o útero imaterial (impalpável) que dá forma ao Todo, a vida que se move em cada criatura. No final do século 4, no entanto, todos os textos secretos respeitados pelos grupos gnósticos foram considerados heréticos e queimados pelos que se nomeavam cristãos ortodoxos. Como consequência, quase todas as imagens femininas do divino foram suprimidas do cristianismo.
Durante o Concílio de Niceia, em 325 d.C., proclamado pelo imperador Constantino, o cristianismo perdeu também a antiga imagem feminina do Espírito Santo na nova formulação de uma tri-unidade masculina do Pai, Filho e Espírito Santo. A sabedoria divina foi dissociada do Espírito Santo e tornada semelhante à imagem de Cristo como o Logos. Por volta de cinquenta anos mais tarde, em 381 d.C., o imperador Teodósio deu o terceiro golpe de misericórdia quando declarou hereges todos os que não estivessem de acordo com seu edito, impondo a todos que acreditassem no credo apostólico estabelecido em Niceia e dizendo que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma só e mesma substância. Numerosos evangelhos gnósticos foram destruídos; toda reunião e todo ritual foram interditos sob pena de morte. Certos evangelhos foram reencontrados em Nag Hammadi em 1945, mas a maior parte foi perdida para sempre.
Como a Igreja se fundamentava cada vez mais no modelo romano imposto pelo poder imperial, e se identificava cada vez mais com a perseguição à heresia, as convicções gnósticas e suas práticas, assim como a imagem feminina do Espírito Santo e da Sabedoria Divina tiveram de se manifestar clandestinamente durantes alguns séculos. Essas concepções e essas práticas emergiram novamente 800 anos mais tarde com a igreja cátara do Espírito Santo, no século 12, assim como, paralelamente, com uma tradição muito próxima da cabala: a das comunidades judaicas da Espanha e do sudoeste da França – uma tradição milagrosamente chamada de “A Voz da Pomba”.
É interessante notar que a antiga metáfora dos textos da sabedoria bíblica do Reino do Céu aparece novamente como o Espírito Santo da Sabedoria Divina na imagem da Shekinah, o aspecto feminino da divindade. A Shekinah, vista como Espírito Santo ativo e presente, aporta as imagens que faltam da imanência divina santificando todo o mundo das aparências: uma ideia que foi perdida ou intencionalmente eliminada pelas três religiões patriarcais. Na tradição mística judaica, encontramos assim a unidade impossível de romper, ou seja, as núpcias sagradas dos aspectos feminino e masculino da divindade, igualmente presente de modo trágico nas religiões patriarcais.
Os grandes centros de estudo da cabala na Europa medieval eram Toledo e Gerona, na Espanha; Narbonne e Toulouse, no sul; e Troyes, no norte da França. Esta última foi a cidade onde São Bernardo fundou a Ordem dos Cavaleiros Templários, em 1128.
Agora é preciso voltar quase mil anos atrás para evocar essa história complexa do Espírito Santo no papel de Maria Madalena, o apóstolo que levou à França a mensagem nazarena do elemento divino oculto na natureza humana. Maria Madalena é o elo que falta nessa história. Segundo a lenda, ela teve de deixar a Palestina em 44 d.C. e, fugindo em direção a Marselha, ela chegou a Saintes-Maries-de-la-mer. Maria Madalena, esposa de Jesus, levou sua filha e seu filho, nascidos respectivamente em 33 e em 37 d.C., para a França. Ela estava grávida de seu terceiro filho quando chegou à costa francesa e, em Provença, ela deu à luz a um menino a quem chamou de José.
Maria Madalena ensinou na Provença e no Languedoc durante aproximadamente 20 anos e era conhecida de quase todos e venerada nessa parte da França. No final de sua vida, ela se retirou para uma gruta na montanha de Sante Baume, na Provença e, quando morreu, com a idade de 60 anos, em 63 d.C., foi sepultada por Lázaro em uma capela ao pé da montanha. Essa capela, que se tornou uma basílica, foi provavelmente o local mais venerado da França durante os chamados séculos sombrios, seguido bem mais tarde por Vézelay e Chartres.
Em 1059, na cidade de Rennes-le-Château, no Languedoc, uma igreja foi consagrada a Maria Madalena. Há uma aldeia nos arredores de Rennes-le-Château, chamada Labadous, onde supõe-se que ela tenha vivido. Numerosas lendas a esse respeito circularam aqui e ali. Havia igualmente uma comunidade essênia. Os cavaleiros templários, que conheciam a verdadeira história de suas núpcias com Jesus e que haviam construído as grandes catedrais em sua honra, veneravam sua memória. Para eles, não a virgem Maria, mas Maria Madalena era Nossa Senhora. Eles a identificavam com a Sabedoria de Sophia.
Quase todas as imagens femininas do divino foram suprimidas do cristianismo
Chegamos, por fim, à última fase dessa história excepcional com a referência à igreja cátara do Espírito Santo, que reconquistou a mensagem original nazarena de Jesus e de Maria Madalena. Os cátaros afirmavam que seu ensinamento se originava diretamente dos apóstolos e da igreja primordial. Eles falavam de sua igreja como “a taça que dá o maná” e “a pedra preciosa”. É impossível não religar essas imagens com o Graal, pois, com efeito, esse ensinamento secreto é tecido no imaginário simbólico das lendas do Graal e foi difundido no século 12 em toda a Europa pelos trovadores – muitos dos quais eram iniciados na igreja do Espírito Santo.
A partir do século 9, eles receberam sua instrução em Saint Guilhem-le-Désert, próximo a Montpellier. A pomba era o principal símbolo da Igreja do Espírito Santo; e os trovadores, educados em Saint Guilhem, portavam mantos vermelhos, bordados com o símbolo da pomba – sendo esta também o símbolo da tradição mística judaica da cabala, conhecida como “A Voz da Pomba”.
Em 1167, há 850 anos, houve um acontecimento excepcional: um sínodo foi reunido para organizar a estratégia que consistia em substituir a igreja católica do Languedoc pelo verdadeiro cristianismo – a igreja cátara do Espírito Santo. Durante a segunda metade do século 12, ela havia praticamente substituído a igreja de Roma como veículo reconhecido da revelação crística nessa região. Ela se apresentou como nada menos que a verdadeira igreja de Cristo – difundida em corrente ininterrupta, transmitida pelos apóstolos e como guardiã do poder que a falsa igreja de Roma havia perdido ou jamais possuíra – “batizando com o Espírito Santo e com o fogo”.
Os cátaros estimavam que o mundo era imperfeito devido à sujeição da humanidade ao demiurgo, e não devido ao pecado original. Eles pensavam que a igreja católica havia privado os homens, assim como as mulheres, do conhecimento de si mesmos – considerado como câmara do tesouro da luz oculta do Espírito Santo – e havia bloqueado seu acesso ao ensinamento verdadeiro de Cristo.
Lá onde a igreja católica ensinava que o Salvador está fora de nós e que nossa salvação final como cristãos é assegurada pela morte sacrificial de Cristo, a igreja cátara ensinava que o homem pode tornar-se o salvador ou “aquele que desperta” o Espírito Divino oculto em sua alma.
Isso era de interesse capital para o indivíduo, pois o acontecimento divino da redenção cumpre-se então nele e por ele, e de modo algum pelo sacrifício do Cristo. O catarismo, assim como o gnosticismo, ensinava um rito sagrado de união, um opus divinum, que, por fim, consistia em fazer um homem ou uma mulher despertar para sua própria divindade interior. Esse ponto era idêntico à Grande Obra Alquímica e aos ensinamentos nazarenos originais de Jesus.
“Face a essa exigência espantosa da igreja cátara e ao sucesso de seus ministros, a igreja católica sentiu-se obrigada a mobilizar todos os seus recursos e, por fim, organizar contra ela uma cruzada ainda mais implacável que qualquer outra contra os sarracenos descrentes, e, em seguida, instaurar uma inquisição para, sem descanso, caçar até o último cátaro, até seu extermínio.”
Um dos elementos mais revolucionários nessa igreja era que os cátaros foram o primeiro grupo desde os gnósticos do século 3 a confiar as funções de bispo, arcebispo e de sacerdotes tanto a mulheres como a homens. Eles não compartilhavam da ideia de que o ato sexual legara o pecado original, mas que era a união sagrada de dois seres de mesmo valor. Somente após o rito do consolamentum e após serem nomeados perfecti eles faziam voto de celibato.
Os textos pelos quais eles nutriam o maior respeito eram uma versão completa do Evangelho de João e o Livro secreto de João, ou melhor, o Apócrifo de João, do qual um dos papiros foi descoberto em Nag Hammadi em 1945. Havia ainda dois outros livros, sendo o primeiro O Livro do Amor, de Maria Madalena, que, como um tesouro, era apreciado pelos cavaleiros templários, e o segundo A Ceia Secreta, que compreendesse talvez o sacramento do consolamentum. Já não resta nenhum traço desses dois últimos, cuja existência foi revelada à Inquisição durante o martírio dos infelizes que caíram em suas mãos.
Esses livros, que foram confiscados pela Inquisição, certamente estiveram cuidadosamente sob a posse das bibliotecas dos nobres cátaros de Foix, de Carcassonne e de Toulouse. Ali também havia textos dos filósofos gregos do século 6, levados de Atenas para a Pérsia quando a Academia platônica foi fechada. Quando triunfaram sobre a Pérsia no século 7, os árabes reconheceram o valor desses textos e os conservaram para, por fim, levá-los a Toledo após a conquista da Espanha. Ali, esses textos foram traduzidos do Grego para o Latim e, nos séculos 11 e 12, levados para a França e a Itália.
Eles destacavam a fraternidade, a compaixão e o serviço pleno de amor aos pobres. Ensinavam as pessoas a não temer a morte e a confiar na direção divina do Espírito Santo. Tinham grande conhecimento das ervas utilizadas para a cura e eram notáveis observadores de estrelas. Consideravam todas as almas humanas como anjos caídos e tornados prisioneiros do corpo. Pela morte, elas eram postas em liberdade para poder retornar à sua verdadeira morada. Por isso eles diziam que após a morte “seguiriam o Caminho das Estrelas”.
A igreja cátara e a brilhante cultura do Languedoc foram, no século 13, completamente destruídas pela infame cruzada albigense, sobre ordem do papa, do rei da França e da Inquisição – de fato, um genocídio em grande escala. Embora essa igreja do Espírito Santo tenha sido aniquilada, pessoas iluminadas, atraídas por eles e vindas de diferentes países europeus, e com base em um pano de fundo tanto judeu quanto cristão, conseguiram mantê-la viva. Essa corrente clandestina de ensinamentos secretos esotéricos, provinda de um cadinho da Alexandria helenística e das comunidades gnósticas expulsas, foi transmitida por um código completo de símbolos, conhecido como hermetismo e alquimia, assim como pelo exercício da cabala, cujos adeptos eram tanto judeus quanto cristãos.
Somos grandemente reconhecidos às almas corajosas que mantiveram vivas essas tradições diante de horríveis perseguições. Se restabelecermos essa história no tempo presente, como poderemos compreender o Espírito Santo hoje?
No século 12, muitos trovadores foram iniciados na igreja do Espírito Santo
Na física quântica, a nova história diz que o universo inteiro é um campo de unidade. Vivemos no interior de uma rede cósmica de vida, que constitui a base e as conexões de todas as formas de vida no universo e no nosso planeta. Cada átomo de vida influencia todos os outros, seja qual for a distância que os separe. Não somos somente ligados via Internet, mas também pelas minúsculas partículas infinitas de matéria subatômica.
Somos parte interessada de um campo de consciência imenso, que não sustenta apenas nosso mundo, mas também o cosmo inteiro. Uma nova cosmologia está nascendo; uma nova visão sobre nossa estreitíssima relação com um Universo inteligente, vivo e mutuamente ligado. A nova História nos mostra uma imagem inédita e radical de nós mesmos – nós não somos somente exploradores do Universo, mas também uma parte intrínseca dele. Se compreendermos essa nova e incrível História, começa a despontar a ideia de que somos participantes de uma consciência cósmica ou inteligência, presente em cada partícula de nosso ser e da matéria.
Somos todos expressões individuais de um organismo cósmico único. O Espírito ou Deus não é algo que transcende a nós mesmos. Estamos inseparavelmente ligados, até o espaço mais profundo de nosso coração. Essa é uma das grandes revelações de nosso tempo.
A antiga ordem está baseada no princípio do poder. A nova ordem estará baseada no princípio da ligação. A fase de transição do velho paradigma para o novo é um desafio e é perigosa, porque o antigo está profundamente ancorado na psique coletiva e mais especialmente nos governos das nações e em seus líderes políticos. No entanto, existe grande esperança quanto a um futuro diferente para a humanidade, carregado no coração dos que trabalham pelo estabelecimento da nova visão.
O despertar no Espírito Santo significa o retorno a uma nova imagem do Espírito abarcando a natureza e a vida planetária. Isso significa o restabelecimento de uma antiquíssima noção segundo a qual o cosmo tem uma alma e uma inteligência e que o Espírito Divino é imanente ou presente em cada partícula de matéria: em cada pedra ou flor, cada árvore e haste de erva.
Estamos todos presos em um processo de transformação muito profundo que se manifesta como uma nova consciência planetária, que reconhece nossa participação em uma santa teia de vida, que pode ser chamada de Espírito Santo. Se pudéssemos ouvir sua voz e escutar sua sabedoria, despertaríamos para a santidade e a divindade da vida. Poderíamos ser capazes de ver a matéria e nosso próprio corpo sob outra luz. Nós os trataríamos com mais respeito.
Antigamente, há milênios, o mundo das aparências provou estar pleno do Espírito. É verdadeiramente necessário restabelecer essa visão, se quisermos curar nossa alma maltratada, nossa cultura e nosso planeta, que está sofrendo. ◊
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Pentagrama no 4 / 2017