Manifestação exterior de um mistério interior

EXPRESSIVIDADE DO SÍMBOLO

Como seres humanos, passamos a maior parte de nosso tempo pensando.
Das três grandes correntes de energia em nós – a da cabeça, que é o pensar; a do coração, o sentir, e a do ventre, o agir – parece que o pensar toma a maior parte de nosso tempo. Trata-se, pois, muito frequentemente, de um processo contínuo e constrangedor. Mas esse processo não é tão-somente constituído de pensamentos passageiros?
Por acreditarmos que todos esses pensamentos nos pertencem, eles acabam se tornando uma posse particular, e, assim, a comunicação com os outros logo se torna algo perigoso, sobretudo porque partimos do princípio de que o que pensamos é realmente verdadeiro. É algo que vem com a convicção de termos pensamentos e de sermos pensadores. Devido ao fato de todos pensarem de modo diferente, e, portanto, conservarem outras verdades, a comunicação assemelha-se a um regateio disfarçado, visando tornar admissíveis aos demais nossas próprias verdades, a uma tentativa de convencê-los, em uma luta feita de ataques e defesas.
Imaginemos, porém, como seria se nos comunicássemos apenas com base em nosso coração. Então como faríamos isso? Talvez exprimindo nossa profunda percepção de ser, ou simplesmente irradiando em silêncio? Não se trataria novamente de “meus sentimentos e seus sentimentos” e “eu sinto assim, e você sente de outra maneira”?
 
Assim, em relação a isso surgem muitos problemas de comunicação no nível de três correntes – de nosso pensar, sentir e agir – e por isso eles também não podem ser resolvidos no mesmo quadro dessas três correntes.
Por trás desse impasse encontra-se oculto o convite crucial para a introspeção que nos direciona para o nosso coração, para o centro de nosso ser, onde residem nossos mais profundos desejos e sentimentos. Ainda mais profundamente, por detrás do centro do coração, flui a fonte de nosso ser essencial, a fonte como símbolo poderoso de algo desconhecido. Ligado a nosso coração físico sensorial e agindo por trás de cada uma de suas batidas, encontra-se o coração de nosso microcosmo, que não conseguimos captar.
Ele nos chama para estarmos disponíveis, para nos abrirmos ao alento que parte de nosso ser essencial, para abandonarmos nosso condicionamento que controla as três correntes da personalidade. Então, como isso poderia ser feito? Como poderíamos transpor esse incessante pensar condicionado e alcançar a corrente dessa outra energia? Quase que de imediato surgem em nós as seguintes palavras: quietude-silêncio-escuta interior. Contudo, no interior do quadro da corrente condicionada do pensar e do sentir, essas palavras e imagens apenas dissimulam a verdade. O poeta Ed Hornik escreve em seu poema “Ter e ser”:  
 
“Ser é a alma,
 é escutar,
 anular-se,
 tornar-se criança,
 é olhar as estrelas,
 e a elas elevar-se lentamente.”
 
Escutar interiormente
Diz-se que na escola de Pitágoras exigia-se dos alunos três anos de silêncio. O objetivo era fazer que os alunos se educassem primeiro na arte de ouvir interiormente antes de serem capazes de falar. Para Pitágoras, esse escutar interior era uma condição preliminar para alguém tornar-se apto para ouvir “o Som divino”, como ele gostava de chamá-lo – som que mantém coesa toda a criação, e que é a base de toda vivência de unidade. Portanto, seus alunos não eram autorizados a fazer perguntas, e ao mesmo tempo esperava-se que encontrassem as respostas a suas interrogações. Eram questões como: O que é a harmonia permanente? O que é mais forte no mundo? O que é mais difícil para o ser humano? Além da possível diversidade de percepção da natureza, é preciso ter sempre presente o espírito de unidade em cada criatura e entre todas elas, pois a unidade é algo interior, e a diversidade encontra nela uma base sobre a qual se expressará em forma de harmonia. Contudo, para o “eu”, essa unidade é inacessível, porque ele apenas conhece e admite a separação, e não pode pensar senão em termos de dualidade. Assim, por detrás de toda essa diversidade de vozes individuais que se fazem ouvir, o silêncio, o Som divino universal, permanece inaudível para o eu.
 
Ligação direta
Para enfrentarmos essa fronteira, podemos contar com o grande auxílio dos símbolos, pois eles mantêm ligação direta entre o Coração Oculto e o coração da personalidade. Eles são um convite, um novo impulso para ouvir – e é graças a essa nova escuta que poderemos ultrapassar radicalmente as três correntes de energia mencionadas acima.
O que é um símbolo? Os símbolos sempre se encarregam de que haja um reconhecimento interior, uma explosão de luz na lucidez da alma. O símbolo expressa uma verdade. Através dele, o Ser incognoscível aparece como consciência das almas. Essa consciência brilha onde se faz necessária, e assim, além do sentir e do pensar racional, torna-se possível uma compreensão interior totalmente clara, apesar de ser quase imperceptível no início.
Certamente conhecemos o símbolo em sua forma exterior, que contém em si um significado, uma mensagem interior e uma energia específica própria. Temos como exemplo o lótus, o pentagrama ou o círculo, o triângulo e o quadrado.
Karl von Eckhartshausen disse: “As revelações exteriores da verdadeira religião conduzem ao espírito interior.” E o apóstolo João riu quando percebeu que o homem ignorante tomava tudo ao pé da letra e não entendia que o mestre interior convertia tudo em símbolos.
A palavra grega symbolon refere-se a um selo ou moeda partida em duas. Uma parte era dada ao mensageiro em nome do remetente; o destinatário, estando de posse da outra metade, podia examinar sua autenticidade. O selo é rompido apenas em aparência, uma vez que o doador e o receptor sempre permanecem ligados entre si. A diferença entre remetente e destinatário era somente aparente e provisória. Cada símbolo sempre representa a unidade, a verdade universal. Assim também é o “Som Divino” de Pitágoras, que é como a verdade que une a tudo e a todos.
Mesmo que um símbolo exterior – como, por exemplo, o pentagrama, a estrela de cinco pontas – possua um valor universal, ele revela ao observador apenas o que é possível e necessário naquele momento. Não é improvável que o valor em questão apresente um significado diferente do que geralmente lhe é dado, pois o símbolo sempre revela uma imagem individual, isto é, uma autêntica experiência interior, diferente da apresentada pela razão. Por isso não é possível prender ou reter o significado de um símbolo, pois ele é sempre experimentado de maneira diferente.
Como um símbolo muitas vezes significa muito mais que mil palavras, ele nos transmite algo de maneira muito mais direta e intensa do que uma expressão verbal ou mental. Um esclarecimento exterior não pode contribuir para uma compreensão interior, a menos que vibre e ressoe, que nasça interiormente e atue nas profundezas de nosso ser!
Em sua forma original, um símbolo sempre atua de maneira inspiradora e estimulante, revelando-se através da alma-espírito. Ele nos convida a vivermos constantemente de maneira nova, a deixarmos para trás nossos velhos condicionamentos, os caminhos já batidos do pensar, do sentir e do agir. É claro que não estamos falando aqui das bandeiras das nações e dos logotipos das organizações, ou dos mini ícones dos smartphones, dos sinais de reconhecimento nas embalagens, ou dos uniformes, das medalhas e das mensagens publicitárias, pois todos eles são métodos externos que têm por finalidade influenciar nosso subconsciente ou agir sobre nossos condicionamentos já existentes. Se, por um lado, um sinal externo não passa de um sinal direto, por outro, o símbolo interior que surge é tão sutil que quase não é notado. Ao lado de um aspecto revelador, ele também contém um mistério. No símbolo, a transcendência e a imanência não se excluem. Qualquer coisa que ilumine uma compreensão interior se expressa como uma verdade além das palavras. Na alma, o espírito incógnito se torna conhecido, o inconsciente se torna consciente. Por meio do símbolo, algo da energia invisível adormecida em nós pode começar a vibrar. Assim, o símbolo torna-se um auxílio para o desenvolvimento de nosso ser. Se houver suficiente abertura para tanto, a possibilidade correspondente é despertada. Se não for o caso, então o símbolo não tem nada a nos dizer, e temos a impressão de que ele não está agindo. Quando muito, ele evoca aquilo que corresponde ao nosso nível de compreensão e de condicionamento.
 
Uma bússola infalível
Essa é a razão pela qual um mesmo símbolo ou imagem pode apresentar, segundo as pessoas, significados bem diferentes, e atuar a cada momento de maneira bastante específica. Portanto, cada um tem sua própria bússola infalível, e, na tela de navegação de outra pessoa, nunca é possível seguir nossa própria corrente de vida. Assim, talvez fique claro que o símbolo material não é um talismã que nos oferece um desenvolvimento espiritual automático. Quanto ao desenvolvimento da alma, todos nós continuamos responsáveis.
Somente ocorrerá uma reação na medida em que ela for a ressonância daquilo que já está em nosso coração. É por isso que mantemos em segredo, tanto tempo quanto possível, a imagem que aparece interiormente. Não com a intenção de fazer segredos ou como parte de uma prática mágica, mas para evitar que o sistema da personalidade, devido a essa ressonância interna, caia com rapidez num estado emocional exterior. Nesse caso, a pessoa logo se entusiasma ou se inquieta. Por isso, precisamos cuidar de não descarregar nossa inquietação interior nem perder-nos em conversas intermináveis, e sim deixar o silêncio trabalhar em nós. Caso contrário, ocorrerá como está expresso na metáfora bíblica “a morte de uma palavra, de uma imagem interior”, e o resultado esperado é, então, perdido. É por isso que, na escola de Pitágoras, os alunos deviam primeiro calar-se, a fim de descobrirem a unidade em silêncio, antes de comunicá-la em alta voz.
Assim como um símbolo é um sinal externo de um mistério interior, assim também somos nós como pessoas. É por isso que nosso convite recíproco é que não sejamos para o outro um monumento comemorativo de todo o nosso condicionamento, mas sim um ponto de interrogação sempre novo, aberto e vivente.
 
O que é mais fácil para o homem?
A simplicidade.
O que é a harmonia permanente?
O imediato sempre novo. 
O que é mais forte no mundo?
O que precede o silêncio. ◊ 
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Em sua forma original, um símbolo age de modo sempre inspirador e estimulante:
ele abre a alma com base no espírito

Pentagrama no 2 / 2017

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