A cura

Acordei
como de um sonho confuso
e fui aos poucos caindo em mim,
tendo entre as mãos
um vasinho de barro muito simples.
Dentro dele, uma haste delicada
com um botão de flor
parecia se estender em minha direção.
 
Meu primeiro impulso
foi deixar de lado
aquele presente inesperado
para verificar outros itens
que exigiam minha atenção.
Mas ele se destacava de tal modo
como se fosse algo evidente,
como uma resposta para meus questionamentos,
que eu não conseguia impor minha vontade
de me desfazer dele.
Desejado ou não,
sua presença era inegável.
Era um frescor que soprava dentro de mim
com tal alegria
que eu mal conseguia me conter.
Era muito mais do que
a soma de todas as alegrias
que me foram concedidas em toda a minha vida.
Era ao mesmo tempo um pedido e uma escolha,
sem me dar qualquer espaço
para eu dizer sim ou não.
 
Mas a terra exige seus direitos,
muitas vezes muito além do que ela merece.
E, submetido a seus encantos,
muitas vezes segui seu falso brilho.
Mas então, quase inaudível,
vibrou o chamado novamente,
como uma dor santa e salutar
nas profundezas de minha alma.
 
Cada chamado me conduz
ao templo interior.
Vou relutante, redimido,
com a respiração suspensa.
E todas às vezes ainda encontro
a porta amplamente aberta.
Um calor ardente irradia em minha direção
de um vasinho de barro tão simples!
É como um acolhimento que nunca acaba.
 
Eu me inclino diante do botão
que me foi confiado há tanto tempo.
Um dia, a magnífica flor romperá os laços,
mesmo que não se saiba onde nem quando.
Um dia eu hei de saber… ◊
 
Pentagrama no 2 / 2017

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