ALÉM DAS CORES

Nós, homens, somos seres analíticos. Não podemos fazer de outra forma: para entendermos uma coisa, precisamos de-com-por, ex-por e ex-pli-car o objeto do nosso interesse. Somos bons nisso: composições, oposições, listas e gavetas para classificar e controlar.

No entanto, em algum lugar do nosso ser subsiste a lembrança de que proviemos da unidade e que, um dia, devemos voltar a ela. “A existência humana é o caminho para a Unidade.” Dificilmente isso poderia ser expresso de forma mais acertada.

Todavia, mal imaginamos o que vem a ser a “unidade” e, menos ainda, que podemos encontrar o caminho até ela. No melhor dos casos temos uma ideia abstrata, ao reconhecer, pouco a pouco, como estão ligados os diferentes componentes.

As cores estão espalhadas em nossa vida como o sal, como tantos sabores e aspectos do infinito e diversificado Reino da Luz, que vive nos convidando, ao nosso redor e em nós. Jardins, ruas, parques, bosques e campos espalham uma infinidade de cores e tonalidades, em sete vezes setenta e sete matizes.

As flores brotam da terra, cada qual revestida da cor e forma de sua espécie. Em seguida, murcham e retornam à terra da qual surgiram e retiraram seu alimento. Com ou sem espinhos, todas têm seu lugar e sua tarefa no Todo. A diversidade é inimaginável, mas a origem de todas é a mesma.

No entanto, gostamos de utilizar as cores para nos distinguir e para colocar em diferentes gavetas tudo o que acontece conosco: partidos políticos, clubes desportivos, bandeiras, sim e não, o que se gosta e o que se detesta. Admitamos que disso resultaram muitas aplicações úteis, entre elas o botão vermelho e a luz verde. Questionável é quando a escolha das cores é feita com base no “bem” ou “mal”, na “simpatia” ou “antipatia”.

As cores são os arautos da Luz. Não vemos a Luz, mas ela torna tudo visível e perceptível em sete aspectos aos quais podemos dar um nome. Reunir, misturar essas cores, isto é, esses sete aspectos é formar novamente o branco, o sem-nome, sem-cor: a Unidade. Porém, somente conseguimos chegar a esse resultado unindo todas as sete cores.

Sempre que criamos uma forma de exclusão, de preferência ou rejeição, vemos tudo cinza! Desse modo, o branco, a Luz, continua embaçado e oculto para nós. E ficamos com a sensação desagradável de haver perdido alguma coisa, sem conseguir identificar o que é.

Contudo, assim que nossa alma absorver todos os pares de opostos, como se fosse uma arca, surgirá, de repente, um universo sobre o qual o sinal divino brilhará como uma promessa: o arco-íris em suas sete cores para os nossos olhos, e numa plenitude de puro branco para a alma.

Um alívio para o corpo e a alma: a cor tão apreciada era uma ilusão. Não precisamos ir a lugar algum, nem voltar, pois não existe o “em algum momento” e nem o “em algum lugar”. Existe apenas o único Ser. ◊

Além-das-cores

Pentagrama no 3 / 2017

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